Longa vencedor de seis estatuetas de um dos principais festivais do país tem trama ambientada na periferia amazônica
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Gleici Damasceno e Gabriel Knoxx em 'Noites alienígenas'Wesley
Desde a primeira cena, um belo super close das escamas de uma cobra que rasteja, “Noites alienígenas” estabelece seu lugar à parte na produção audiovisual brasileira. O longa de Sérgio de Carvalho é ambientado no Acre, um estado relegado — quando não alvo de escárnio — pelo Sudeste que domina as telas. A paisagem aqui não é meramente acessória: é determinante da trama a seguir.
Rivelino (Gabriel Knoxx) é um jovem com potencial desperdiçado na periferia amazônica com forte presença indígena, vivendo entre a arte e o bico no tráfico de drogas. Naquele pedaço do mundo, as raízes de culturas tradicionais encontram uma urbanidade mal resolvida, que busca pertencimento mas vivencia a precariedade.
Essa ambientação está entre os fortes do longa, que saiu da última edição do Festival de Gramado com seis estatuetas, incluindo a de melhor filme. O território em disputa onde habitam os personagens tem batalhas de rap, grafites, motos e tráfico de drogas, igreja evangélica e também ayahuasca, moradias simples e origens raciais diversas, que se refletem nas caras do elenco — outra lufada de ar na padronização usual.
É nessa interseção de culturas que uma tensão se avoluma: entre a venda de drogas “deboísta” do maluco-beleza Alê (Chico Diaz, sempre impactante) e a violenta ascensão de um bando mais organizado. O protagonista Rivelino encarna esse mundo movediço. Vive entre identidades, em busca de um “progresso” também frustrante.
Apesar das qualidades, falta aqui um vigor na direção e na preparação de atores que dê à narrativa uma voltagem mais alta. E fica uma incubadora de potencialidades muito bem-vindas no cinema brasileiro.